quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Middlesbrough desvendada, e o fim de mais uma jornada!


No Ormesby Hall, em meio à nevasca...


Declarações de amor aos pés do Riverside Stadium!


Transporter Bridge, com ares de Blade Runner


Prefeitura, na Centre Square


Foi um prazer! Até a próxima, folks!


Logo que cheguei a Middlesbrough, eu me propus a desvendar a cidade em “doses homeopáticas”. E foi o que de fato fiz. No decorrer dos quase três meses em que morei aqui, pude conhecer praticamente tudo, com exceção das baladas, porque isso realmente não fez parte do meu roteiro casal caseiro. Agora que mais esta jornada no UK chegou ao fim, resolvi sintetizar tudo o que vi por aqui.

O foco das explorações foram os museus, parques, os símbolos da cidade, o teatro, o cinema, os restaurantes e as cidades próximas, que são excelentes escapadinhas para um dia! Então, fiz uma lista de cada atração, com nota de 0 a 10 e uma pequena descrição, para o caso de algum mortal vir acabar parando por essas bandas do UK:

Museus – Todos gratuitos!

Dorman - Nota 7: é um museu pequenino, bem em frente ao Albert Park. Foca na história da cidade, na Revolução Industrial, e período das guerras. Bem simpático!

James Cook Birthplace - Nota 8: o museu homenageia o famoso navegador e explorador James Cook, nascido em Marton, uma cidade vizinha à Middlesbrough. O museu fica num parque lindíssimo e tem um café supercharmoso. Vale uma visita, faça sol, ou faça neve!

MIMA : Nota 7 - É uma galeria de arte moderna, bem no centro da cidade. O forte não é o acervo, mas as exposições itinerantes que passam por lá. Quando fui, tinha uma exposição de Toulouse Lautrec maravilhosa!

Parques, para qualquer ocasião:

Albert Park - Nota 8 – O parque é um quadradão com lindos jardins, fontes, pistas de Cooper, lago com patinhos, pista de skate e um café. Fica localizado na parte de trás da Teeside University e é a área verde da cidade mais frequentada pelos moradores.

Ormesby Hall - Nota 10 - Numa cidade colada à middlesbrough, fica este deslumbrante parque do Trust. É uma área enorme, com maravilhosos jardins, gramados, uma mansão georgiana do século XVIII, centro de visitantes, igreja, áreas para piquenique... Fui com muita neve e mesmo assim, o parque é maravilhoso!

Stewart Park - Nota 10 - Em Marton, ao lado de Middlesbrough, é onde fica o Museu James Cook, no mesmo local onde nasceu o explorador. O parque é imenso, cheio de jardins, lagos e animais silvestres. Se estiver sol, vale um piquenique, senão, o museu tem um café delicioso, com uma vista divina, perfeito para uma pausa gastronômica!

Os símbolos da cidade

Centre Square - Nota 10 – É o maior espaço cívico da Europa, com 19 mil metros quadrados. Abriga a Prefeitura, a galeria MIMA, a Biblioteca, o monumento a James Cook, uma linda fonte, um lago, o telão da BBC, bancos e gramados para usufruto geral. A praça foi parte de um projeto recente de revitalização da cidade e é hoje o coração de Middlesbrough!

Middlesbrough Transporter Bridge - Nota 7 - A ponte é uma geringonça, mas se tornou símbolo da cidade. Funciona como uma balsa suspensa, ou contêiner de carga, dependendo da necessidade. Fica iluminada à noite, o que a confere certo charme e pode servir de referencial, porque de tão alta que é pode ser vista de quase qualquer ponto da cidade!

Boro – Nota 8 - O time da cidade, onde muitos anos atrás jogou o nosso Juninho, considerado uma lenda no clube. O Riverside Stadium fica próximo à estação ferroviária e a caminhada até ele é bem interessante, com vistas para o distrito industrial da cidade, que foi cenário de Blade Runner. É possível fazer um tour pelas dependências do clube, visitar seu museu e lojinha. Do lado de fora, tijolinhos com mensagens de torcedores fanáticos enfeitam o chão e compõem um conjunto magenta impactante com as paredes do estádio e esculturas de jogadores em bronze, dispersas na fachada, bonito de se admirar.

Teatros – Middlesbrough tem 3 teatros - Nota 8 para todos:

São eles, o Middlesbrough Theatre, o Empire e o Town Hall. O primeiro exibe peças tradicionais; o segundo é onde acontecem os shows e no último, que fica no prédio da prefeitura, exibe concertos, musicais e comédias stand up. Estive lá para assistir um concerto de Tchaikovsky e apesar de o ambiente ser bem simples, tem uma atmosfera muito típica de cidade do interior, com tudo arrumadinho, um lugar em que todos se conhecem e têm praticamente cadeiras cativas.

Cinema - Nota 10:

A cidade tem só um cinema, que é o da rede Cineworld. São 10 salas excelentes, com direito a lanchonete, para um público jovem e assíduo. As salas estão sempre cheias, e a qualidade dos filmes é ótima. Além de terem ótimo áudio, imagem, salas para filmes 3D e poltronas bem confortáveis, os filmes em cartaz são sempre diversificados, com opções para todos os gostos!

Restaurantes

Se tem algo que conhecemos bem neste período, foram os restaurantes. Fomos aos mais famosos da cidade e tivemos experiências diferentes em cada um. Abaixo, os comentários de cada um daqueles em que jantamos! Estão ranqueados do melhor para o pior!

Joe Rigatone’s – Nota 10 – Restaurante italiano com comida farta e caprichada, a preços justos, num ambiente superagradável!

Al Kabak – Nota 10 – Restaurante indiano, com pratos típicos bem apimentados e caros. À noite é a maior balada, com som alto, multidões de pessoas e muitas festas.

Starters – Nota 8 – Culinária contemporânea e como o próprio nome já diz, os pratos mais se parecem com entradas, de tão pequenos que são. Mesmo assim, a comida é de qualidade, os preços justos e o ambiente bem agradável.

Nando’s - Nota 7 – Culinária portuguesa, com cara de fast food. O sistema é semelhante ao de um pub, onde se paga antes de comer. Come-se com 10 Libras em média. As bebidas são refil, como no Outback. São muitas opções de pratos, mas o ambiente é tão confuso, que não conseguimos apreciar.

Banana Loaf – Nota 6 – Restaurante chinês, estilo Buffet, extremamente barato. O lema é comer até cair! As opções são no geral gordurosas e pouco atraentes, mas o lugar vive lotado.

Sassari - Nota 5 - Restaurante italiano, considerado um dos melhores da cidade. O ambiente é lindo, os preços bem salgados e os pratos deixam a desejar. Saímos de lá os dois com fome e dor de estômago! Decepcionante...

Cidades próximas que valem uma visita:

O Norte da Inglaterra tem cidades lindas e muito diferentes das do sul. Todas abaixo são nota 10, cada uma com seu charme e característica principal. Algumas mais cosmopolitas, como Newcastle e Harrogate, outras praianas, como Whitby e Tynemouth , outras estudantis e históricas, como Durham e York. Mas todas incríveis e imperdíveis para quem escalar o mapa do UK!

É isso. Tendo encerrado esta segunda temporada no UK, voltamos para o Brasil em dez dias. Mas antes, uma parada em Sharm El Sheikh, no Egito (se a neve deixar o avião decolar), para quebrar um pouco do inverno com o calor do deserto, assim como fazem milhares de britânicos todos os anos.

Espero que tenham curtido ler sobre o UK nestas linhas, tanto quanto eu curti escrevê-las! Agora, é hora de encerrar mais esta viagem e começar os preparativos para embarcar nas próximas, que estão prestes a começar...

Até a próxima!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Dias e noites em branco...


Ormesby, no meio da nevasca...


Igreja no Ormesby Park


James Cook Birthplace Museum


O Café do Museu e sua vista idílica!


Veadinhos e vaquinhas peludas...

Quando acabou o inverno de 2008 em Manchester , eu achei que tinha presenciado o pior nverno que passaria na vida. Estava enganada. Desde o dia 25 de novembro, ou seja, há quatro dias, o UK está sofrendo com o mais precoce e rigoroso inverno em décadas , com temperaturas chegando aos -20 graus em algumas cidades e neve com quase um metro, em pleno outono.

Os britânicos detestam a neve, porque o chão vira um ringue de patinação e os carros não ultrapassam os 30 km/h, causando um trânsito que não deixa nada a desejar ao das seis da tarde na Marginal Tietê, na véspera de feriado. Os trens sofrem atrasos, alterações de rota e cancelamentos e os aeroportos viram um caos, com atrasos, cancelamentos de voos e fechamentos provisórios. Além disso, escolas não abrem, obrigando os pais a faltar no trabalho ou a terem que pagar para deixar os filhos em creches ou com babás. Em suma, os tão certinhos britânicos se deparam com o imprevisto, e sem jogo de cintura, entram em pânico.

Bem brasileira que sou, apesar de passar um frio louco, resolvi encarar o clima vindo da Sibéria e me divertir um pouco. Por isso, neste final de semana, fomos, eu e o Mário, em busca das nevascas, dos ventos uivantes, da natureza selvagem que está dominando o UK e que, segundo meteorologistas, veio pra ficar por pelo menos mais 10 dias!

No sábado, fomos até o Ormesby Hall, que fica numa cidade vizinha à Middlesbrough. Fomos a pé, com a temperatura em torno dos4 graus negativos e em meio a uma tempestade de neve. Uma extreme experience, eu diria. No caminho, fizemos bonecos de neve, guerra de neve, tomamos neve; usufruímos da lúdica e pálida companhia. O Ormesby Hall é um parque do Trust, onde há uma mansão histórica do século XVIII, cercada por jardins exuberantes. Pelo menos é que diz o site, afinal, encontramos a mansão fechada e os jardins completamente submersos por um espesso edredom de neve. Mesmo assim, o lugar é maravilhoso e vale uma visita, faça o tempo que fizer.

No domingo, acordamos com nove graus abaixo de zero. Quando abrimos a janela, a sensação era de ter entrado num freezer. Ninguém na rua. No telhado do vizinho uma gaivota desolada, com neve na cabeça. A mesma neve que cobria tudo em volta, até a rua, que em tese deveria estar protegida pelo sal que a prefeitura despeja para evitar o congelamento. E lá fomos nós de novo, eu e o Mário, nos aventurarmos neste freezer chamado UK.

O destino escolhido para o dia foi o James Cook Birthplace Museum , que fica numa cidade vizinha. De novo, fomos a pé, fazendo bonecos de neve, guerra de neve e tomando neve. O museu homenageia James Cook, o navegador e explorador que nasceu em Misddlesbrough e descobriu a Austrália. Isso é que é vontade de fugir do frio, eu imagino... O museu fica no Stewart Park, um parque imenso cheio de jardins, lagos e animais simpáticos, onde ficava a casa original em que nasceu o explorador. O museu tem um café delicioso, com uma vista divina, onde vale tomar uma sopa só para curtir o visual.

A viagem até o museu levou uma hora e quarenta na ida e uma hora na volta. A razão? Voltamos correndo para esquentar. E descobrimos que correr na neve, sob nevascas e ventos é uma delícia. Cansa menos e o impacto é menor nas articulações. Nesse final de semana, percebemos que o frio, a neve e os ventos podem ser muito divertidos. Bem diz o ditado: “Se não consegues vencer o inimigo, alie-se a ele!”

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Manchester, again, porque relembrar também é viver!


Com a Alê, Rogério, Henrique e Mário, nos mercados!


Mercados Natalinos à noite!


Matando as saudades do Fletcher Moss...


No agito das compras, no coração da cidade!


Banda de um Homem só, agitando o domingão de Manchester!


Urbis, que vai se tornar em breve, o Museu do Futebol!


Em março de 2009, às vésperas de retornar ao Brasil após vivermos um ano em Manchester, eu e o Mário concluímos que nunca mais voltaríamos para lá. Pensávamos já ter esgotado nossa curiosidade com a cidade, conhecido todos os parques, os melhores restaurantes , lojas e opções de lazer. Estávamos certos de que retornar à Capital do Norte não teria mais sentido. Ledo engano...

Em novembro de 2010 já estávamos nós dois, pisando em terras macunianas, ansiosos para matar as saudades de tudo o que conhecíamos! Decidimos passar os três dias relembrando nosso cotidiano na cidade. Por isso, ficamos hospedados num hotel bem central, o Ramada, próximo ao maior terminal de ônibus e à estação de trem Piccadilly. O ponto também é ótimo para explorar o centro da cidade a pé. Ao lado da maior e mais barata loja de departamentos do UK, a Primark e do shopping Arndale , além das inúmeras lojas espalhadas pela Market Street, não há como não perder horas nas compras.

Tornando a atmosfera da cidade ainda mais especial, fomos brindados com o início dos Mercados Natalinos e suas dezenas de cabaninhas, espalhadas por diversas ruas, onde se encontram pratos típicos da Alemanha, França, Espanha, Suíça, Turquia e Inglaterra, além de artesanatos, chocolates e muitas opções de bebidas. Mesmo com temperaturas abaixo dos cinco graus, a cidade em massa compareceu aos mercados, tornando a Praça Albert Square, onde fica a Prefeitura, o ponto com maior número de pessoas por metro quadrado em Manchester.

No nosso “roteiro revival”, passeamos por Stockport, onde moramos, caminhamos pelo parque Flecher Moss e seus lindos jardins, fomos à melhor loja de eletrônicos da cidade , a Comet (onde compramos uma nova máquina fotográfica para caprichar mais no blog!), passeamos pelos mercadinhos de rua na Old Town e, para fechar a noite com muito estilo, jantamos no italiano Avanti, que ficava em frente ao nosso flat. Perfeito!

No domingo, aproveitamos para fazer comprinhas natalinas nas redondezas, porque não teríamos tempo de ir ao Trafford, um dos maiores shoppings e, possivelmente, o mais bonito do UK. Encerramos o fim de semana nostálgico com os amigos que ainda moram em Manchester, comendo Falafel numa barraquinha dos Mercados Natalinos. Uma delícia...

Três horas de trem depois, estávamos de volta à Middlesbrough, desejando ter ficado em Manchester, sem data pra voltar pro Brasil. Neste final de semana, confirmei o dito popular de que só damos o devido valor às coisas, quando de fato, as perdemos. Porque a perdida Manchester se faz hoje a desejada Manchester, aquela que viverá em nossas lembranças, minha e do Mário, para sempre, como um sonho bom, um lembrete de que o presente é sempre um presente; e que o resto, o resto é passado, é uma memória impressa num texto, um sorriso estampado na foto, um fim de semana nostálgico.

Aqui, um videozinho da Exchange Square, para dar uma idéia do ritmo natalino!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O Príncipe e a plebéia, um casamento que pode salvar a pátria!


Prince William e Kate Middleton, com o anel de Diana!

Numa época em que só se fala na crise causada pelo credit crunch, com uma overdose diária de notícias sobre inflação, greves, falências, demissões em massa, aumento da criminalidade, depressão e outros fenômenos típicos do terceiro mundo, o UK é pego de surpresa por uma boa notícia: o casamento do Príncipe William com Kate Middleton, uma plebéia.

O casal namora há uma década, mas oficializou o noivado ontem, em rede nacional, numa coletiva, coroada com a imagem do anel de noivado que pertenceu à Princesa Diana, no dedo de Kate, a mais nova queridinha da nação. Soldados que antes falavam sobre quantos colegas haviam perdido no Afeganistão aparecem agora mandando mensagens de felicidades aos noivos; os âncoras dos jornais esbanjam sorrisos; David Cameron, o Primeiro Ministro, fez um discurso sobre a alegria que o casamento está trazendo ao UK, e o povo está tão animado, que parece que vai até participar da festa!

Com o passar dos anos, a Realeza do UK perdeu poder e hoje possui um papel mais simbólico. São como uma herança que os britânicos gostam de esbanjar ao mundo, mas que ao mesmo tempo causa certo incômodo, uma vez que, num português nada nobre, “a Rainha mama nas tetas do Governo”, e consequentemente, do povo. As despesas Reais provêm do bolso do povo e elas não são poucas não. O povo paga pelo Palácio de Buckingham, casas de veraneio, viagens, carros e tudo que se relacionar com a monarquia.

Claro que a família Real tem suas riquezas, herdadas de uma época em que governavam o UK, mas elas não bastam para quitar as contas. Alguns “benefícios” também são exclusivos da Rainha, como ser a única pessoa no UK que tem permissão, por exemplo, para comer cisnes. Apesar disso, de modo geral, o povo não se queixa da Realeza. Numa pesquisa de opinião feita pela BBC, ficou constatado que os britânicos acham que o que pagam para manter a família Real é justificado por todo o lucro que geram com o turismo, ações diplomáticas e caridade. O casamento, certamente, também vai movimentar a economia do UK, gerando empregos, atraindo mais turistas e impulsionando a indústria.

Calcula-se, no entanto, que no casamento do Príncipe William e Kate devam ser gastos algo entre 400 mil e um milhão de Libras e é previsto que os gastos com a segurança da festa sejam repassados à população. Resta saber se quando isso acontecer, o povo ainda vai comemorar tanto a notícia.

No momento, tenho a impressão que todos enxergaram neste casamento, o final feliz para o coitadinho do Príncipe órfão de mãe, aquele que ficou traumatizado também pela repercussão do adultério de Diana e pelas baixarias de seu pai e Camila Parker, explicitadas pelos terríveis tablóides. Parece que todos enxergam neste noivado a redenção do casamento falido do Príncipe Charles, uma nova chance para provar ao mundo que a Realeza tem seus valores e merece respeito. O ex-secretário privado de Diana, Patrick Jephson, desabafou que “esta é a chance do casal de rejuvenescer a Dinastia” e que é “a oportunidade para uma celebração nacional de boas-vindas”. E pelo visto é esse mesmo o sentimento da população...

Só sei que o anúncio do casamento por si só já deu aquele ânimo nos britânicos. Nem a data exata, nem o local da festa foram divulgados ainda, mas é só no casamento em que se fala. Não vejo isso como futilidade, alienação ou válvula de escape; mas sim como um estímulo, um primeiro degrau, um pequeno Prozac ao povo, porque sem essas pequenas felicidades do cotidiano, fica difícil até de almejar conquistas maiores. Espero que os britânicos usem essa alegria como um antídoto à crise, à guerra, ao medo do terrorismo e assim, ajudem a conduzir o UK de volta ao topo, de volta ao trono, que é na verdade, o seu lugar por direito!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Surfando nas ondas do UK!


Nas ondas do Mar do Norte


Saltburn


Mário, Liane e Empire, longe das águas geladas...

Quando pensava nos esportes mais praticados no UK, só me vinham à cabeça coisas meio esquisitas, como a caça à raposa, a corrida pelo queijo montanha abaixo, o críquete, o rugby e os tradicionais - tênis e futebol, famoso pelos hooligans. Difícil era imaginar que com o clima frio do UK, o surfe também fosse um esporte tão importante.

Este final de semana conheci um surfista brasileiro, o “Ban Ban”, que mora numa pequena cidade no nordeste do UK, chamada Redcar. Ele treina todos os dias, faça chuva, faça sol, ou faça neve. Com sua roupa emborrachada, pés de pato e prancha, ele se atira horas a fio no Mar do Norte, conhecido pelas baixíssimas temperaturas (que oscilam em média entre cinco e 19 graus). A praia de Redcar parece o Boqueirão de Santos, mas com bem menos gente e com correntes congelantes de ar vindas da Irlanda, em vez da deliciosa brisa abafada do litoral paulista. Mesmo assim, ele surfa feliz...

Vizinha à Redcar, fica a simpática Saltburn, uma pequenina vila costeira vitoriana, com um píer, uma linda colina e um mar bastante agitado. O jornal The Guardian elegeu o mar de Saltburn entre os 10 melhores do UK para a prática do esporte. As ondas de Saltburn são tão procuradas pelos surfistas do UK que existe até uma escola de surfe na cidade. Iniciantes podem ter aulas de duas horas, por 20 Libras. Mas como o surfe não é a minha praia, apenas caminhei pelas montanhas de Saltburn com o Mário, a Liane, esposa de Ban Ban, e o cão Empire, admirando de longe, a coragem daqueles que mergulham de cabeça no esporte.

Para dar apoio aos surfistas do UK, existe a British Surf Association, que reúne toda a informação sobre surfe, incluindo os campeonatos nacionais e internacionais.

Pode ser que as ondas daqui não sejam grande coisa, quando comparadas às do Hawaii, Austrália e África do Sul, mas bem que dão um caldo e fazem a alegria do povo, que assiste de camarote, à dança das pranchas nas águas geladas do UK!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Tynemouth, uma brecha na razão!


Piquenique com contemplação, como de costume...


Nas ruínas do Priory and Castle


Sobre um canhão, que protegeu o forte durante as guerras...


Passeio pelo píer, por nossa conta e risco!


Pôr do sol com dança de gaivotas


Lembrança para alimentar planos de uma nova visita!

Toda vez que entro em um trem no UK tenho a certeza de que ao desembarcar, encontrarei peças de um quebra-cabeça da história, um trecho do passado que se encaixa perfeitamente naquele monte de informações desconexas que precisei decorar para passar no vestibular. Na prática, tudo faz sentido quando se percorre os passos que civilizações, povos e seus líderes deram para marcar seus territórios e deixar seus legados. O legado deles está hoje nas minhas fotos, colando realidades, apesar do tempo que nos separou...

Por isso, quando desembarquei do metrô de Tynemouth, em uma pequena estação a meia hora de Newcastle, no nordeste do mapa do UK, soube que algumas sinapses ocorreriam e insights da história se revelariam novamente. Em síntese, é uma cidade da costa, que mescla praias e montanhas, harmonizando a solidez de um monastério que resiste a dois mil anos com a instabilidade dos desejos do homem e a inconstância do Mar do Norte, sujeito às oscilações das marés. Nessa aparente contradição, Tynemouth desponta como uma brecha da razão, onde coexistem passado, presente e futuro.

Antes de retroceder no tempo, foi preciso acalmarmos o corpo e, como de praxe, fazer uma pausa para um piquenique, envoltos pela beleza do lugar. Satisfeita esta necessidade, rumamos para o Priory and Castle, ou Castelo e Monastério em busca do seu passado.

As edificações datam da Era do Ferro. No século VII, a região foi ocupada pelos Romanos, que construíram o monastério e um forte. Acredita-se que três reis estejam enterrados na área do Castelo e Monastério: Oswin, Rei de Deira (651); Osred II, Rei da Nortumbria (792); e Malcom III, Rei da Escócia (1093). O Castelo era considerado um dos mais fortes do Norte do UK, e foi onde as rainhas, esposas de Edward I e Edward II se hospedaram enquanto seus maridos viajavam pela Escócia. Uma vila se formou no entorno do castelo e por volta de 1325, o monastério construiu um porto para o comércio e a pesca, o que levou à disputa centenária entre Tynemouth e Newcastle pelos direitos de embarcação.

No século XVIII, a região se tornou um balneário de luxo e hoje é sede de campeonatos de surfe. Mas nem só de passado e presente Tynemouth sobrevive. O futuro está em construção nas mentes brilhantes que estudam no tradicional King’s College, onde estudou por exemplo, Ridley Scott, diretor e produtor dos filmes Blade Runner, Robin Hood e Thelma e Louise, entre outros.

Além do visual deslumbrante das ruínas do monastério e castelo no alto da colina, é impressionante a visão que se tem do Mar do Norte em fúria, contestando a invasão do imenso píer, que tenta domesticá-lo desde 1903, permitindo que embarcações naveguem em segurança. Caminhando pelo píer, nos sentimos coniventes com essa invasão e nos expomos aos caprichos do mar, sempre disposto a encharcar os pedestres. Mas cada ameaça do mar se justifica na caminhada, com a chegada ao farol, de onde se pode assistir ao pôr do sol entre as ruínas do castelo, enfeitado pela dança das gaivotas, ao canto dos ventos e ecos do passado.

Para aquecer o corpo judiado pelos respingos do mar e pelo ar gelado do UK, fechamos o passeio da mesma forma que começamos: comendo! Não a céu aberto desta vez, mas no aconchegante Crusoe’s, uma casa de chá-quiosque, nas areias de uma pequena praia de Tynemouth. Não poderíamos ter encerrado de forma melhor o dia do que quentinhos, comendo um gigantesco muffin e vendo de longe, os surfistas se aventurando nas águas geladas, à noite, no Mar do Norte. Uma memória única, que quem sabe um dia, inspire uma nova visita!

O pôr do sol, com a dança das gaivotas...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Celebrações de fim de ano no UK!


Bonfire Night... Tudo é festa!

O calendário de comemorações dos ingleses é recheado de datas importantes o ano inteiro, mas é no segundo semestre do ano em que se concentram as maiores festas do UK. Talvez para trazer um pouco de graça à melancolia do inverno que se aproxima, não sei, mas o fato é que a partir do dia 31 de outubro, com o Halloween, o Reino inteiro entra num clima de festa, que só acaba em janeiro.

A celebração de Bonfire Night é grandiosa em todo o UK. Todo dia 5de novembro, a “Noite da Fogueira” relembra a execução de Guy Fawkes, um revoltado com o sistema monárquico cujo plano de explodir o Parlamento Inglês com barris de pólvora, em 1605, foi descoberto a tempo de evitar a tragédia dos nobres e proclamar a sua própria! Ele foi capturado com seus comparsas e todos foram esquartejados e queimados na fogueira...

Na prática, a festa lembra uma Festa Junina, com ares e Réveillon. Mistura fogueira, balões, comidas típicas, shows e muitos fogos de artifícios. Em 2008, comemorei a data em Manchester e este ano em Stockton, em meio a milhares de pessoas, ao som de Joe McElderry, ganhador do X Factor. Bem legal!

Alguns dias depois, dia 11 de novembro, o UK se cala por dois minutos, num ato de respeito e para recordar todos os que morreram nas duas grandes guerras. É o Remembrance Day, celebrado desde 1921. Tá certo que não é uma data festiva, mas já faz parte do DNA do inglês. Às 11 horas, do dia 11, do mês 11, o som do silêncio. Depois, acontecem cerimônias nas igrejas e memoriais de todo UK, mas é em Londres onde se dá a maior celebração.

No segundo domingo do mês, em frente ao Cenotaph (um memorial às vítimas das guerras), a Rainha, o Primeiro Ministro, políticos e militares prestam suas homenagens. Fazem discursos, declamam poemas, entoam cânticos e, por fim, depositam na base do memorial suas coroas de poppy, florzinhas de plástico vermelhas (que os ingleses usam como broche), compradas de veteranos e instituições de suporte aos soldados e famílias de pessoas que perderam alguém em função de guerras. Também acontece uma parada pela cidade. Para o inglês é uma data triste, mas para os turistas é uma data feliz, porque traz a chance de ver a realeza e compartilhar um pouco da história do povo.

Em novembro, também começa o clima Natalino. E a maioria das cidades faz uma superfesta para dar entrada na contagem regressiva até o Natal. É o “Switch on Lights”, um evento com shows, fogos e o momento em que é acesa toda a iluminação natalina da cidade!

No fim do mês e começo de dezembro, é a vez dos mercados natalinos. São grandes feiras de rua, com barracas de comidas, bebidas, artesanatos e opções de presentes. Uma diversão só. Eles funcionam o mês inteiro e é uma tristeza o dia em que deixam de fazer parte da paisagem...

E quando chega o Natal, é a vez dos restaurantes e baladas fazerem a festa. É muito comum as pessoas se reunirem em restaurantes e casas noturnas na noite de Natal. Aliás, os ingleses comemoram mesmo é no dia 25. Esse negócio de ceiar tarde e esperar até a meia-noite para abrir presentes não é com eles. O jantar é às seis da tarde, depois vem a balada, e só no dia 25 é que trocam presentes. Tudo muito organizado, lógico. Passei o Natal de 2008 em Londres e mesmo sem família, sem presentes, sem metrô e sem dinheiro, foi um dos melhores natais da minha vida...

Depois vem a preparação pro Réveillon e não há melhor lugar para celebrar a chegada do Ano Novo no UK do que em Edimburgo! Foi onde passei o Hogmanay de 2008, como é chamada a festa, e comprovo que mesmo sem mar pra pular as ondinhas do mar, sem ter Iemanjá pra receber minhas flores, sem o verão pra arejar a alma e sem roupa branca pra eu me perder na multidão, ter passado a noite de preto, com frio, ao som de música celta, aos pés do Castelo foi maravilhoso. Mas Londres também oferece muitas baladas quentes para quem perder a chance de passar a festa na Escócia!

Este ano, vou parar minhas festas nos mercados natalinos, porque já estarei de volta ao Brasil no Natal, em tempo para pedir ao Papai Noel, um Brasil pra inglês ver em 2011!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Anjos e demônios no Halloween de Edimburgo!


Passeando pelas colinas paradisíacas de Holyrood Park!


Castle, o anfitrião de Edimburgo!


Entrada do Cemitério Greyfriars


A cidade libertou seus demônios...


Spookie!!


Góticos e afins, dominando Edinburgo


Túmulo do diabólico Mackenzie, eu não entrei!


Para comemorar o Halloween, escolhemos revisitar a cidade conhecida por ser uma das mais mal assombradas do mundo: Edimburgo. O UK, de modo geral, tem múltiplos roteiros para os amantes do “além”, mas Edimburgo é de longe a mais assustadora. Se de dia, tudo o que se vê são lindas paisagens, colinas espetaculares, fachadas estonteantes, o castelo, as inúmeras lojas, os museus e restaurantes; é de noite, que se revelam suas atrações mais bizarras e menos fotogênicas...

Mas antes de nos aventurarmos pelos vieses da história e sair à caça das bruxas, passamos a véspera do Halloween fazendo o tour do bem. A começar, demos uma passada pelo Castelo, que sem dúvida é quem dá alma à cidade. Diz-se que circulam por lá entidades não muito amigas, como o tocador de gaita de fole sem cabeça, entre outras assombrações. Mesmo assim, é impossível pisar no solo Real da cidade e não comparecer ao castelo, isso seria como ir à casa do anfitrião e não cumprimentá-lo. Então demos nosso alô a ele e partimos para uma espécie de museu do planeta, o Dynamic Earth. É uma proposta mais para crianças do que adultos, mas compensa pelo show do planetário, feito com animações incríveis da NASA. E à tarde, fizemos uma escalada paradisíaca pelas colinas do Holyrood Park, para enxergar do alto a beleza sobrenatural da cidade.

Mas à noite, as bruxas já estavam à solta e saímos em busca delas, para entrarmos, literalmente, no espírito de Halloween! Começamos pela região chamada Grassmarket, onde há muitos pubs e restaurantes. O calçadão onde se concentra a balada estava tomado por pessoas fantasiadas de zumbis, múmias, vampiros, demônios, ursos de pelúcia, noivas ensanguentadas, loiras do banheiro, psicopatas e figuras tenebrosas. Hilário e, não posso negar, um pouco assustador também...

Dali, fomos para um pub de outro mundo, em que já tínhamos estado em 2009, o Frankenstein. O lugar é normalmente amedrontador, com gente mórbida e assustadora, numa decoração pra lá de bizarra. Mas o som é ótimo, a balada fica lotada e é divertidíssima! As maiores figuras do Halloween estavam por lá, dando o gostinho do que estava por vir no dia seguinte...E como esperado, o dia 31 de outubro foi mesmo um dia assustador, ou spookie, como se diz por aqui!

Começamos o passeio pelo cemitério Greyfriars, que sepulta almas de centenas de pessoas executadas ou aprisionadas a céu aberto até a morte, no sec XVII, por conta de conflitos religiosos. Os prisioneiros foram torturados a mando do diabólico George Mackenzie, durante o reinado de Charles II. Mackenzie foi sepultado no mesmo cemitério em que suas vítimas anos depois dos massacres e é considerado um dos mais potentes poltergheists do mundo. Isso se deve às centenas de casos de pessoas que visitaram sua tumba e saíram dela cheias de arranhões e hematomas. Há muitos casos de desmaios e algumas mortes também relacionadas às visitas de pessoas ao seu túmulo. As famosas ghost walks que levam ao cemitério avisam de antemão que não se responsabilizam por nenhum incidente que venha a ocorrer com quem se atrever a invadir o território do sanguinário Mackenzie. Eu não tive coragem de chegar muito perto, mas fotografei sua sepultura para tentar ver se ele aparecia na foto pelo menos. Até agora não consegui identificar nada suspeito na imagem...

Mas a fama do cemitério é ainda maior por conta de Bobby, um pequeno terrier que permaneceu por 14 anos ao lado do túmulo onde seu dono foi enterrado, em 1872, depois de morrer de tuberculose. Sua lealdade foi reconhecida e, após sua morte, foi enterrado não longe do seu dono. Hoje, ossinhos e brinquedinhos enfeitam sua sepultura. Dizem que ele e seu dono, entre muitas outras almas penadas, passeiam por ali. Really spookie!

Saindo do cemitério, fomos para o Mary Kings Close, uma das atrações mais apavorantes de Edimburgo! Para quem não sabe, debaixo da cidade existe outra cidade, escondida no subsolo, onde por séculos viveram famílias inteiras em condições degradantes. São inúmeras ruelas estreitas, claustrofóbicas, escuras, empoeiradas e cheias de um passado de sangue, pestes e sofrimento. E esta, talvez, seja a mais famosa atração da cidade que explora o subsolo perdido, além dos vãos subterrâneos (que eu não tive coragem de conhecer). O passeio é um tour escoltado por um guia à caráter, com roupas e maneiras que remontam ao período entre os séculos XVI e XIX, quando a área era habitada. São diversos corredores, com cômodos mínimos, recriando a vida de famílias inteiras que coabitavam a região com animais, sem higiene alguma, assombrados pela peste negra.

A fama é a de que perambulam por lá fantasmas desta época, sendo o mais conhecido, a menina Wee, que foi abandonada pela mãe quando contraiu a peste. Sensitivos dizem que a menina tinha saudade de seu cachorrinho e chorava por ele. Muita gente afirma ter ouvido seus choros e sentir uma presença no cômodo onde ela morreu. A história ficou tão conhecida, que lá existe hoje uma pilha de bichinhos de pelúcia, deixados pelos visitantes do tour. A comoção é tanta com a história da menina, que se criou um fundo de apoio para ajudar na cura de crianças doentes, tratadas no Hospital de Edimburgo, com o dinheiro deixado pelos visitantes no quarto de Wee.

Dando por terminada a programação de Halloween, partimos de Edimburgo para Middlesbrough, de trem. Mas não imaginávamos que seria na baldeação em Darlington, que teríamos a mais assustadora atividade do dia. Assim que desci do trem, ouvi um barulho e gritos, o homem que vinha logo atrás de mim havia acabado de cair no gap, debaixo do trem! Pânico na estação! Imediatamente, ajoelhei no chão e gritei para tentar despertar o homem, que acordou devagar e me estendeu a mão. Com uma força de outro mundo, consegui puxá-lo quase totalmente para fora, enquanto pessoas gritavam para que o trem não se mexesse! O Mário finalizou o resgate e, no fim, o homem foi amparado pelo pessoal da estação para receber atendimento médico. Nem de longe, eu podia imaginar que teria uma noite tão assustadora. As bruxas pareciam mesmo estar à solta, mas no fim, os anjos da guarda também estavam com a corda toda!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Outono em York!


Little Shambles e seus paralelepípedos mutantes!


York Minster


Uma das lindas praças...


Em casa, no tradicional Grey's Court!


Um tour pela muralha, o melhor city tour!


Pose na muralha!


Um dos pecados que se comete em York!


Memórias de York no inverno!

Neste domingo, fui pela terceira vez à York. A primeira foi no verão de 2008, a segunda no inverno de 2009 e a terceira, no outono de 2010! Em cada uma das estações, uma impressão diferente da cidade; em todas, a mesma vontade de retornar...

Na primeira vez, captei seu charme inegável. Belas fachadas, o paisagismo exuberante, a efervescência cultural. Multidões de pessoas em pubs, comprando lembranças nas lojas pequeninas, fazendo piqueniques nos bancos das praças e parques. Era tanta gente, que não se via o paralelepípedo característico no chão da mais famosa rua da cidade, a Shambles (que no passado era onde ficavam os açougues), conhecida por ser a mais bem preservada rua medieval no mundo. Apreciei por fora o York Minster (cobram-se salgadas 7 libras pela visitação), a maravilhosa catedral da cidade, conheci o museu viking Jorvick, que evoca a herança viking da cidade e, para fechar, almocei em um pub típico, o local que mais do que qualquer museu do UK, cultua e dissemina a herança viking dos ingleses!

Na segunda vez em que estive em York, um cenário completamente diferente. A visita foi marcada pela maior nevasca que já vi. O branco do York Minster parecia ter derretido pelo solo da cidade e encoberto tudo, como um manto sobre o sofá novo, que nos impede de conhecer a sua verdadeira natureza. Os paralelepípedos, o paisagismo imaculado, os telhados tortos de madeira, que datam de mais de mil anos atrás, tudo ficou submerso pela neve. O frio insuportável repeliu as pessoas para dentro de museus, lojas, igrejas e restaurantes, e as ruas antes efervescentes, ficaram vazias, fazendo-me imaginar que toda a ira dos vikings, a gana de lutarem e conquistarem novas terras, eram, no fundo, uma tentativa de se aquecerem, já que em casa não tinham central heating, pantufas, nem polainas à disposição. Meu passeio terminou num bistrô quentinho, muito bem acompanhada pelo maridão e por um prato de sopa.

Meu terceiro passeio em York foi o melhor. Os paralelepípedos não eram mais coloridos, sufocados pelos calçados da multidão que os pisoteavam barbaramente no verão, nem brancos de neve, escondidos pela força do inverno; agora eles são dourados, cobertos por folhas poéticas que despencam ao poucos de árvores centenárias, nos convidando a desfrutar de toda a cidade, in e outdoors. Para celebrar esse convite que a cidade fazia, começamos caminhando pela margem do rio Ouse, onde entre cisnes e patinhos, circulam barcos turísticos e canoístas. Depois, tomamos o caminho da muralha, que mais do que ao passado medieval, conduz ao melhor city tour que se pode fazer em York, acessando por pontos alternativos, os tradicionais ícones da cidade.

A muralha desemboca em algumas saídas e cada uma delas revela um tesouro escondido. Eu e o Mário escolhemos descer pelos fundos da Grays Court, não só pela beleza do lugar, como pela fome que já se manifestava. O lugar é o mais interessante que podíamos encontrar para almoçar, sim, porque além de ser praticamente um museu, é um restaurante inusitado. A casa foi construída pelo primeiro arcebispo normando de York, em 1080 para servir como residência do ministro do Tesouro. No passado da residência, há fatos como ela ter sido ponto de encontro e servido como hospedaria para diversos monarcas, entre os quais James I, Eduardo VI, filho de Henrique VIII e o Duke de York. Duelos fatais e nomeações de cavalheiros aconteceram em seus aposentos e por conta disso, há inúmeras histórias de fantasmas assombrando a propriedade. Hoje, a casa serve pratos deliciosos num ambiente completamente informal. As pessoas se sentam em sofás, ao piano, em frente à lareira, onde quiserem, podem ler as revistas e livros, que estão à disposição, e fazer suas refeições como se estivessem em suas próprias casas. O máximo!

Após o almoço, conhecemos a simpática galeria de arte, que é gratuita e está com uma exibição bem divertida sobre a arte da fantasia, expondo desenhos e pinturas de fadas, duendes e criaturas sobrenaturais. Dali, rumamos para a Shambles street, com suas lojas tentadoras e exploramos todas as ruinhas no entorno. Com o clima agradável, mas frio, não havia tantos turistas como no verão, nem tão poucos como no inverno. Foi possível desbravar quase tudo, assistir a shows de rua, curtir a natureza dos parques, enfim, aproveitar a cidade, sem estresse.

Descobrimos que haveria uma missa com coral à tarde no York Minster, para o qual não é preciso pagar, apenas chegar com antecedência. Foi o que fizemos! Era a oportunidade perfeita para conhecermos, enfim, a catedral e ainda assistir a um coral. E foi lindo... A catedral é deslumbrante, toda feita em mármore, com a maior coleção de vitrais da Europa. Para quem quer fugir do ingresso, vale se informar sobre o horário das missas (que são extremamente íntimas, medievais e participativas!) e comparecer.

Com o espírito purificado dos desejos consumistas e pecados da gula que cometemos na cidade, rumamos para a área do Castle Museu(diferentemente da maioria absoluta dos museus do UK, este cobra entrada) e do castelo, com a fotogênica Clifford’s Tower no topo de uma colina. Ambos estavam fechando, então não pudemos conhecê-los, mas quem conhece diz que são incríveis e que valem uma visita!

Fechamos o passeio no National Rail Museum, que fica atrás da estação ferroviária. O museu aborda a história do sistema ferroviário e expõe muitos vagões dos trens utilizados na malha do UK, inclusive vagões Reais, nos quais viajaram os monarcas no passado. É superinteressante e diferente de todos os museus. Além de ser gratuito, ele fecha só às 18 hs, o que facilita uma visita de última hora...

Mas como nem tudo são flores, faltou tempo para fechar o roteiro, faltou dinheiro para comprar lembrancinhas, faltou ver York desabrochar... Não importa, York é um destino que se renova, convidando o mundo a reconquistá-lo. Resta-me dar tempo ao tempo e aguardar por um convite futuro de seus paralelepípedos, para um passeio florido, na primavera do UK!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Newcastle, sedutora e apaixonante!


As famosas pontes...


Tyne Bridge!


The Sage visto de cima


O fálico Grey's Monument


Grey Street


Keep Castle, que foi de Guilherme o Conquistador!

Newcastle foi um assentamento romano, chamado na época de Pons Aelius, fundado pelo Imperador Adriano ao longo do rio Tyne, no século II. E ao longo do tempo, mesmo como menos de 300 mil habitantes, tornou-se uma das mais importantes cidades da Inglaterra.

A primeira impressão que se tem ao pisar na cidade é a de que é um centro poderoso, dinâmico, rico, bonito, influente; enfim, com tudo o que uma mulher procura em um homem! Desde o edifício da ferroviária, tudo o que se vê são amplas construções, modernas e medievais, muita gente indo e vindo, centenas de lojas, diversos teatros, cinemas, restaurantes, universidades, museus, parques, uma catedral, pontes impressionantes, um clube de futebol, ufa, e até um castelo. Um lugar que conseguiu conciliar beleza e conteúdo, em medidas iguais.

Newcastle é acima de tudo, um importante centro para compras, onde por sorte, há muito mais o que fazer. Além das centenas de lojas de rua, espalhadas em torno da imponente Grey Street, há diversos shoppings, sendo o Eldon Square o maior e melhor. Às margens do rio, na região chamada Quayside, muitos restaurantes, bares e cafés disputam espaço numa das mais belas áreas da cidade. De frente para as pontes, numa longa passarela, onde esporadicamente há mercados de rua (que vendem de tudo, desde comidinhas até raridades dos Beatles), é o local em que as pessoas se reúnem para apreciar o panorama da cidade, e por que não, o pôr do sol espelhado nas águas do Tyne.

Na região conhecida como Gateshead, que é do outro lado do rio, fica um dos maiores shoppings da Europa, o Metro Centre . Lá também ficam os empreendimentos mais modernos, como a galeria de arte Baltic (bem na frente da Milennium Bridge), que é gratuita e, além das exibições, tem também um café muito simpático. Vizinho à galeria, está o enorme centro de música The Sage Gateshead, um prédio todo espelhado, em forma de lesma (não sei o que mais pareceria!), onde acontecem eventos, shows e concertos.

Próximo ao rio, fica o pequenino e simpático Castle Keep , fundado por Henrique II em 1168, e moradia de Guilherme (ou William) “O Conquistador” mais tarde. O castelo é bem preservado, bem iluminado, bem sinalizado, mas tem uma arquitetura tão confusa, que a gente se perde. E como ele é muito vertical (como muitos dos monumentos fálicos da cidade...), para conhecer tudo é preciso subir e descer várias vezes, o que pode ser exaustivo e claustrofóbico para alguns (como eu, por exemplo!); mas mesmo assim, vale pagar as 3 libras do ingresso para conhecer!

Apesar de possuir um excelente sistema de metrô, não há nada como andar a pé em Newcastle, explorando cada viela escondida da Old Town, investigando cada brecha de história que acenar para você e sua máquina fotográfica, instigando-o a desvendar o passado que a marcou ou imaginar o futuro que a espera. Apesar de não ser muito grande, a cidade tem muitos desníveis e percorrê-la na carona de seus tênis é uma experiência um pouco SM, porque ao mesmo tempo em que é prazeroso, é também um sofrimento.

Mas este sofrimento compensa, na medida em que entrega ao sofredor as vistas mais espetaculares da cidade das pontes. Após conhecer a parte antiga da cidade, fui para o Quayside, conhecer a parte moderna. Como um voyeur, para ter idéia do que me esperava, precisei admirar de longe, por um tempo, todo o cenário surreal que as pontes compõem. Depois de admirar suas curvas, ousei atravessá-las, indo e vindo por cada uma delas, ao limite da exaustão. Pode parecer sexual, e foi. Após as preliminares na parte antiga, o êxtase aconteceu na parte nova de Newcastle. O vai-e-vem nas pontes foi o apogeu de um dia na cidade, que culminou com um esplêndido pôr-do-sol visto da mais alta das pontes, a Tyne Bridge, que se eleva a quase 162 metros de altura.

Com toda esta maratona, bateu aquela fome, e há muitas alternativas de lugares legais para comer. Nós almoçamos no agradável italiano Frankie and Bennys, mas há opções mais econômicas no Chinatown.

Devo admitir que é preciso ir prevenido à Newcastle, uma cidade onde tudo pode acontecer, até se apaixonar por ela. Deve-se desembarcar lá pronto para se entregar aos seus caprichos e desfrutar de seus prazeres. E quando terminar, eu garanto, você vai refletir e concluir que sim, que foi bom pra você!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Intercâmbio na Inglaterra


Desembarcando feliz na Terra da Rainha!


São muitas as motivações que podem levar alguém a fazer um intercâmbio na Inglaterra: aprender a língua em sua origem, preparar-se para algum dos temidos testes de proficiência, como o IELTS, o sonho de cursar universidades mundialmente reconhecidas (Oxford, Cambridge, os maravilhosos colleges do UK...), viver na Europa, adquirir desenvoltura, etc.

Todas estas são razões legítimas e louváveis, mas sem um conjunto de providências e cuidados essenciais, o intercâmbio pode acabar como um sonho frustrado e arrependimento, e eu digo isso por experiência própria. A primeira vez que vim para a Inglaterra foi em 2002, depois de ganhar um concurso cultural promovido por um Jornal. Meu prêmio foi uma viagem para Brighton, com direito a um mês de curso de inglês, hospedagem em casa de família e direito a um acompanhante, no caso o meu namorado, que dois anos mais tarde veio a se tornar meu marido.

A experiência foi, no final das contas, muito legal; afinal Brighton é uma graça de cidade, a escola era bacana, nós dois viajamos bastante pela Europa nos finais de semana e aproveitamos a ocasião para fazer um “test drive” de como seria um possível casamento. Mas os fins não justificam os meios e não posso deixar de ponderar os pontos negativos da viagem...

A primeira surpresa que tivemos foi em relação à nossa host family. Diferentemente do que esperávamos encontrar, não teríamos uma Host Mother e um Host Father, mas dois Host Fathers. Nada contra casais do mesmo sexo, mas em momento algum nos foi informada a condição alternativa dos dois. Não aconteceu, mas poderíamos não ter nos sentido a vontade com nossa nova família. A host family aliás, era bem alternativa: tínhamos um irmão turco, duas irmãs chinesas e um irmão argentino. Ou seja, éramos seis irmãos, além dos dois pais e uns cinco cachorros. O esquema era como uma pensão e mal víamos nosso host fathers...

Além disso, em certa altura da estada, um de nossos pais remexeu na bagagem de nosso irmão argentino, que deu falta de coisas pessoais e foi tirar satisfações com o nosso pai filipino. Ele se defendeu dizendo que a culpa era de seus irmãos brasileiros, ou seja, minha e do Mário, e que teríamos roubado seus produtos. Um total absurdo! No final das contas, nosso pai inglês confirmou que seu companheiro teria remexido nas coisas dele, pediu desculpas e ficou por isso mesmo... Esse é o tipo de roubada, literalmente, a qual os intercambistas estão sujeitos a passar, quando optam por agências pouco sérias no Brasil para organizarem sua viagem.

O pior é que se ouve com frequência, relatos de meninas que foram cantadas por seus host fathers, meninos que se desentenderam com seus host brothers, gente que não gostou da escola e até pessoas que tiveram problemas com a documentação para entrar no UK. Como a minha viagem foi um presente, não contestei meu prêmio ou reclamei de nada, mas sei o quão grave é passar por uma situação de desamparo no exterior, onde não se fala a língua, se desconhece as leis e se está longe da família.

Por isso, antes de fechar um intercâmbio, certifique-se da credibilidade da agência, acesse o site do PROCON e veja se não há processos correndo contra ela e, acima de tudo, tente conversar com quem já viajou pela empresa. Conheço bastante gente que viajou com a EF – Education First , e sei que é uma empresa extremamente séria e competente, com opções de intercâmbios para diversas cidades do UK, incluindo Brighton, Londres, Oxford e Manchester, cidades maravilhosas! Eles oferecem diversas modalidades de intercâmbios, para pessoas com diferentes idades e interesses.

Para se inspirar, vale pedir um dos catálogos, que eles enviam gratuitamente pelo correio. Depois, é só desembarcar para curtir as maravilhas da Terra da Rainha e ter a certeza de mais do que um intercâmbio, é possível fazer um investimento no seu futuro!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Brimham Rocks e Fountains Abbey, à espera de um segundo encontro...


Visual surreal de Brimham Rocks!


Vista do topo


Rochas malucas...


Fountains Abbey


Eu nos gramadões da Abadia!


Um dos ilustres habitantes do parque!


Homenagem, ou tiração de sarro, não sei ainda, à Ana Bolena!


Fountains Abbey e suas cores impressionantes!


Sábado foi um dia bem diferente dos que tenho tido aqui no UK. A convite de um casal inglês muito simpático, eu o Mário fomos para uma região próxima à Harrogate, no North Yorkshire, conhecer uma área preservada e mantida pelo Trust, conhecida como Brimham Rocks. São aproximadamente 20 alqueires com rochas de formatos muito loucos, esculpidos pela erosão durante a última era glacial (embora eu acredite que tenha sido na penúltima, dado o frio que fazia neste dia!).

As pedras possuem formatos impressionantes, tamanhos variados e parecem se encaixar umas nas outras, apesar da distância que as separa. Muitas delas têm nomes, como “O urso dançante”, “águia, “tartaruga”, “o ídolo”, etc. O visual geral é superinteressante e, como as pedras estão no topo de uma montanha, são extremamente convidativas para uma escalada. Algumas delas são fáceis de escalar, mas outras só são alcançáveis por meio de aparelhagem apropriada. O que vale é o espírito aventureiro tomar conta, nos impulsionando para cima contra a chata gravidade.

Atingido o topo, a missão é procurar pelos conhecidos pontos de interesse da região, que se espalham num raio de até 40 milhas dali. Num dia claro, como o que fazia neste sábado, era possível enxergar entre outras coisas, o York Minster, a linda catedral de York e o “White Horse”, um enorme cavalo branco esculpido por um professor, numa montanha, 200 anos atrás. Como todo parque preservado pelo Trust, o de Brimham Rocks também tem um centro de visitantes onde se vende lembrancinhas do local e comidinhas apetitosas, além de uma área para piqueniques, perfeita para uma pausa revigorante.

Depois de nos aventurarmos escalando as rochas, fomos para outra área preservada pelo Trust perto dali, a “Fountains Abbey”. O lugar tem uma beleza natural incontestável, com rios e colinas dispersos em harmonia, povoados por pássaros, esquilos e alces, que perambulam em meio ao verde, sem medo das pessoas. Mas incontestável também foi o trabalho do homem para tornar o lugar ainda mais maravilhoso. Em 1132, 13 monges foram para o vale onde existe hoje o parque e fundaram uma das mais ricas catedrais da Europa. A catedral sobreviveu à dissolução da igreja católica por Henrique VIII e, em seus arredores, onde foi feito o parque, há duas referências à Ana Bolena: uma estátua sem cabeça (talvez as origens do humor negro dos ingleses?) e o “Anne Boleyn’s Seat”, um local no alto de uma colina de onde se tem uma das mais belas vistas do lugar.

O paisagismo que serpenteia por todo o parque, combinando gramados estupidamente grandes, com bosques encantados, dignos de contos de fadas, encerra a impressão de que se está no paraíso, em vez de um lugar que foi possivelmente, palco de grande violência no passado.

As ruínas da abadia, levemente rosadas, ainda estão de pé e hoje servem de cenário para festas de casamento e eventos variados. Na noite do sábado, se não estivéssemos tão cansados e com tanto frio, teríamos esperado para assistir o coral de crianças que faria um especial para a BBC às 10 da noite. Mas ficou para uma próxima ocasião, o que é bom também, afinal, quando não se não esgota todas as possibilidades num primeiro encontro, há sempre motivo para um segundo, quem sabe, ainda mais especial!

Um tour pela Abadia....