quarta-feira, 27 de agosto de 2008

AFRIKA! AFRIKA! & Cirque du Soleil







Ontem, o Mário e eu fomos ao Trafford Centre , o maior shopping de UK, para assistir ao espetáculo AFRIKA! AFRIKA!, de Andre Heller, que é escritor, cineasta, cenógrafo, compositor, coreógrafo e o multi-talentoso idealizador do show.

Para quem, como eu, assistiu o Cirque Du Soleil,há uma sensação constante de deja vú, porque o conceito de espetáculo circense é o mesmo: nada de animais, apenas artistas e atletas de alto nível, tendas super produzidas, muita música e acrobacias de tirar o fôlego. AFRIKA! AFRIKA! Entretanto, fez mais o meu gênero... Isso porque se trata de uma experiência “baseada em fatos reais”, não em contos de fadas como os do Cirque.

O show representa danças, folclores e rituais do antigo continente, embalados ao legítimo som do tambor e com um elenco ”made in Africa”, o que confere muito mais autenticidade e força ao espetáculo. Sim, há shows clichê, como o de contorcionistas, o das 12 bolinhas de tênis, pirâmides humanas e coreografia do pool, mas há também acrobacias mescladas com algo que remete à capoeira e ao samba, um excelente show de break e uma performance enlouquecedora de um jogo de basquete sobre rodas. É muita informação, muito som, muita agilidade, muita precisão, mas alguns erros também. Foram pelo menos 3 tombos durante o show, mas nem isso compromete o meu julgamento de que Afrika! Afrika! supera o Cirque Du Soleil, seu modelo óbvio.

A ornamentação das tendas é outro diferencial. Extremamente bem estruturadas, as tendas abrigam um hall com bares maravilhoso, um legítimo café africano e um restaurante de primeira, o Masai Mara, para bolsos mais rechonchudos do que o meu. Se o Cirque Du soleil é melhor do que o AFRIKA! é em relação à perfeição dos movimentos, porque nota-se que ainda há um leve descompasso entre os africanos que não existe no time do Cirque; mas talvez até isso reflita o estilo africano de ser, porque é tudo tão rápido que os erros acabam sendo perdoados.

Em suma, eu recomendo! O show mostra uma África pulsante e forte, rústica e intensa, sem as mazelas que estamos acostumados a ver na TV. Talvez seja uma África para inglês ver mesmo, mas nem assim, o espetáculo não perde a sua beleza.

Veja a tenda no vídeo:

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Mathew Street Music Festival em Liverpool!

Você consegue imaginar?







Esse final de semana foi um Bank Holiday aqui em UK e para celebrar a ocasião, não faltaram programas animados! Para citar alguns, o Tatton Park, que fica na região de Manchester teve show de falcões, corrida de wippets, Bienal de Jardinagem, desfile de carros antigos e bandinhas; o centro de Manchester teve a Parada Gay e o Big Weekend; Londres teve uma mega festa de apresentação para os Jogos Olímpicos de 2012 na Trafalgar Square; e Liverpool, que fica a apenas 50 minutos da Piccadily Station, sediou pela 16º vez o Mathew Street Music Festival. E foi para lá que nós fomos no domingo...

Imagine que pela terceira vez em Liverpool, só agora me apaixonei pela cidade. Não foi amor à primeira vista, mas aconteceu. O fato de ter sido proclamada a Capital da Cultura na Europa em 2008 deve ter algo a ver com isso, porque a cada semana surgem eventos ótimos, exposições, shows e festivais diferentes. Além disso, o clima de lá é bem mais quente e ensolarado do que em Manchester, o que sem dúvida, é um grande atrativo!

O Festival da Mathew Street é algo grandioso! Imagine um lugar sem restrições, onde todos os ambientes são liberados; a entrada é grátis; com tendas de alimentação por todos os lados, onde não se passa fome, onde não há ganância por um lugar melhor, pense numa galera unida numa festa de família! Imagine um lugar onde as pessoas compartilhem tudo! Difícil de imaginar? Pois assim foi o festival: por 2 dias a cidade ficou praticamente intransitável, lotada de gente do mundo todo, de mídia e de muita música! Neste ano havia 6 palcos grandes, distribuídos pela cidade. Em cada um, um gênero diferente de música; em todos, a mesma empolgação!

Para ter uma idéia, pense num paraíso, onde houvesse apenas um lindo céu azul, apenas sol sobre nós. Não é difícil de imaginar para quem está fora de UK! O mote deste ano foram os Beatles (para variar), mas as bandas tocaram de tudo, para alegria geral do heterogêneo público, que tinha desde bebês até octogenários, de patricinhas a metaleiros, de emos à rappers, todos pacificamente comportados. Imaginou? Imagine agora um lugar sem fronteiras, sem motivos para brigar ou se defender; apenas com pessoas aproveitando o momento, num clima de integração, independente de religiões e de valores, sem a ameaça do terrorismo.

As ruas de Liverpool estavam tomadas pelas pessoas, os pubs com filas de espera, a música alta estava em todo lugar, mas nada de infernal. Era possível se perder pelas estreitas ruinhas e se guiar apenas pelo som que ecoavam. Você consegue imaginar um lugar assim?

Pode parecer que eu viajei forte, mas não fui a única. Neste fim-de-semana em Liverpool milhares viajaram comigo... Espero algum dia que você junte-se a nós e também confira o Mathew Street Festival “and the world will live as one”!


Para uma palhinha do Festival, assista o vídeo!

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Manchester Gay Pride - 10 dias de purpurina!









Para quem não sabe, a Inglaterra é um País muito avançado em relação à homossexualidade. A união civil entre pessoas do mesmo sexo é formalmente aceita pela legislação e ocorre com tanta freqüência como a entre casais heterossexuais. Por conta disso, ou por ter políticos e cidadãos engajados em fazer valer os seus direitos, (não sei se quem veio primeiro foi o ovo ou a galinha; só seio que os ovos são de purpurina!!!) o país assegura aos gays uma condição de vida livre de preconceitos e hipocrisia, o que acaba atraindo GLBTS (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Simpatizantes) de todos os cantos do mundo.

Assim, orgulhosa de sua diversidade sexual, de 15 a 25 de agosto, Manchester celebrou os 18 anos do Orgulho Gay da cidade, um movimento que completou a maioridade com uma série de atividades culturais, sociais, educativas, políticas e lúdicas. Foram 10 dias de purpurina que coloriram as ruas com bandeiras do arco-íris; os cinemas e teatros com obras na temática gay; palestras sobre adoção, união civil e saúde; atividades esportivas para o público, que culminará no Campeonato para gays - Pride Games, em setembro, e o animadíssimo Big Weekend, que foram 78 horas de ferveção em torno dos transbordantes canais da Gay Village, com baladas e shows poderosos para os que desembolsaram 17 pounds! Até o Boy George pintou por lá...

Logicamente, que tanta energia, ou melhor, gaynergia, tinha que explodir em cores numa big Parade! E foi o que aconteceu: das 2 às 7 horas da sexta-feira, o centro da cidade ficou interditado para carros e uma multidão de GLBTS se aglomerou para assistir ao desfile gay! O desfile em si foi um pouco xoxo, porque havia menos gays desfilando do que assistindo e a música era dispersa e inconstante; mas o interessante foi a abordagem que eles tiveram para expressar a homossexualidade.

Não foi apenas um desfile de drags, travestis, lésbicas e saradões de sunguinha que me deu um banho de purpurina... No início desfilou a polícia de Manchester, comprometida e participante da causa; desfilaram médicos e enfermeiros em trios-elétricos e ambulâncias, bombeiros no carro de bombeiros, casais de mulheres com seus filhos em carrinhos de bebês, motoqueiros barbudos em suas Harley Davison, esportistas com seus respectivos uniformes, ONGs para portadores do HIV, pais e mães de gays, donos e cachorros gays; enfim, foi um desfile democrático e civilizado com pessoas de todos os tipos para entreter e educar, não necessariamente nessa ordem.

A parada foi há 2 dias, mas até agora encontro purpurina nos cabelos. No fundo, acho que ela não vai sair é nunca mais, porque depois desses 10 dias de gaynergia na terra da Rainha, além da minha consciência GLBT-sexual, também cresceu minha Simpatia!

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Violência em UK - Para não dizer que não falei dos espinhos!




Nós somos o lugar onde moramos; o jornal que lemos; os crimes que cometemos e aqueles que escolhemos defender; nós somos as escolhas que fazemos e as que deixamos de fazer...

Quem pensa que assalto, vandalismo, briga de gangues, esfaqueamentos e estupros são coisa de país pobre, como o Brasil, pode se surpreender quando estiver em UK.

Diariamente, estão nos jornais daqui notícias de crimes bárbaros. Comecei a reparar nesse lado podre de UK quando em julho, foi noticiado em todo mundo o assassinato de 2 estudantes franceses em Londres. O crime chamou a atenção para o crescente número de ocorrências pelo uso de facas em todo o Reino Unido.

Manchester é o terceiro lugar em número de crimes com facas! Até hoje, eu imaginava que os tablóides fossem bem sensacionalistas, porque o máximo que eu havia presenciado no quesito “violência”, após quase 3 meses aqui, eram olhos roxos, frutos de brigas e biritas a mais...

Acontece que hoje cedo, ao abrir a janela de meu quarto, em vez de esquilos saltitantes nas árvores, (eu moro provavelmente, num dos melhores bairros da Greater Manchester, onde nada acontece nunca!)o que vi foi o carro de meu vizinho detonado. Como ele deve ter seus 18 anos, é um roqueiro descabelado e mal vestido (como 99% dos teenagers ingleses), tento apaziguar meu espanto imaginando que seja um caso isolado, algo pessoal; penso que o ataque vândalo deva ser um recado, uma vingança, ou uma lembrança de alguma paixão mal-resolvida. Sim, porque as meninas de UK são bem atrevidas! Usam roupas infinitamente mais indecentes do que as brasileiras, maquiagens rebuscadas, cabelos rebeldes multicoloridos, exalam perfume de álcool e devem andar com facas em suas inocentes bolsinhas Primark a tiracolo.

As estatísticas comprovam um aumento de 25% no número de garotas no crime! Por isso, não fique preso ao estereótipo do marginal que conhecemos no Brasil quando andar pelas lindas ruas do Reino Unido; aqui, ele pode ser uma loirinha com cara de anjo, com mochila Hello Kit e polainas coloridas sobre as meias ¾ de seus meigos uniformes escolares.

Na comunidade do Orkut “Brasileiros em Manchester” há um tópico sobre a violência na cidade e lendo alguns posts é possível ter uma noção do que tem rolado por aqui. Apesar da violência crescente Manchester e em UK de um modo geral - que acredito ser devida ao desemprego, inflação (sim, existe inflação em UK! Só este mês a eletricidade aumentou 17% e o gás 22%!), ao abuso do álcool, ao aumento no número de imigrantes, etc – mesmo assim ainda me sinto segura por aqui.

Assaltos à mão armada são raros; o que acontece são furtos (pickpockets que afanam de pessoas distraídas); brigas acontecem à noite, perto dos pubs; o mesmo ocorre com estupros e assassinatos. Ainda é possível distinguir local e comportamento de risco, não vejo a violência aqui como algo ao qual todos estão à mercê. Não há seqüestros-relâmpago, quadrilhas que invadem sua casa e te fazem de refém, assaltos no caixa eletrônico... Para os ingleses, a situação da violência está alarmante, mas para quem tem São Paulo como background, Uk ainda é um paraíso.

Com o tempo, entretanto, devo começar a acreditar nos tablóides e ficar preocupada com a violência; acho que isso deve estar começando a acontecer na verdade, pois acabo de assinar o “Apelo pelo desarmamento em UK”.

Como diz a canção, "quem sabe faz a hora, não espera acontecer" e já que estou na terra da Rainha, escolhi agir com nobreza e viver como uma inglesa, que quer mudar o seu País, mesmo que ele não seja a minha raiz!

É isso... Seja lá qual for a sua raiz, "take care" e boas escolhas para você!

sábado, 9 de agosto de 2008

Olimpíadas de Beijing num dia de sorte


Lucky me!


Made in China






Há exatos 4 anos, eu estava com o maridão em Atenas, assistindo aos jogos Olímpicos da Grécia de camarote, por conta de um prêmio que ganhei num dos muitos concursos culturais que venci. Ao perceber-me na frente de um telão na Inglaterra, 4 anos antes das Olimpíadas de Londres e há muitos quilômetros de Beijing, questionei-me sobre onde teria minha sorte ido parar...


O8/08/2008: uma data simbólica para os místicos, um dia especial para os esportes. Para definir a data de início das Olimpíadas, a China escolheu esse dia mágico como o marco inicial. A soma dos algarismos é 8, número da sorte pela numerologia. Li nos jornais que nessa data, também aconteceu uma maratona para o altar e em clima de proteção esotérica, 16000 chineses correram para dizer o “sim” ao casamento.

Cética desta magia, tive que convir que meu dia também contou com um quê da sorte. Na parte da manhã “filei” 4 aulas grátis de inglês na escola onde uma amiga está estudando. Pratiquei um pouco da língua e depois ainda degustei comidinhas “for free”, porque por coincidência era o dia da “international food” e todos os alunos tinham levado guloseimas típicas de seu país. Saindo da escola, achei 15 Pence no chão e fui me encontrar com o Mário, que por acaso estava livre na parte da tarde, para assistirmos a abertura dos Jogos no telão no centro de Manchester.

Dispersos nas rampas em frente ao famoso shopping Triangle, ao pé da Manchester Eye, num atípico dia de sol, pessoas de todos os cantos do mundo espremiam-se em busca de um ângulo privilegiado para acompanhar a festa em Beijing.

Encontramos uma ótima brecha e ali ficamos assistindo a festa da platéia... Sim, porque mais divertido do que acompanhar a abertura era acompanhar as expressões das pessoas diante do que assistiam no telão. A maioria era das pessoas era de chineses, orgulhosos e excitados, que se comportavam como anfitriões de uma festa da qual não puderam participar. Como uma franquia da China, ali nas rampas do centro, eles empunhavam bandeiras, gritavam, aplaudiam, distribuíam água para os presentes, tomavam champanhe, soltavam balões, tiravam fotos sem parar...

Em meio à curtição olímpica chino-macuniana, a BBC entrevistava algumas pessoas; foi quando a entrevistadora veio em minha direção e me entrevistou também. Queria saber por que eu tinha ido assistir a abertura no telão; e eu disse que era pela vibração da platéia, que era tão expressiva e divertida. A entrevista deve ter passado nos intervalos da festa... Pena que ainda não tínhamos chegado em casa para assistir, mas aí também, já teria sido sorte demais!

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Carnaval em Liverpool: o dia em que o Rock acabou em samba...



Ar Vintage...



"Arquibancada do samba"


Mangueira inundando Liverpool


Alegórico Jhon

Estive em Liverpool em 18 de junho, no legendário Cavern pub, onde entre gritos de Help! e choramingos de Hey Jude celebrei em família o aniversário de Paul McCartney. Mas, como Liverpool foi eleita a Capital da Cultura na Europa em 2008, a cidade não mais sobrevive do passado roqueiro que a tirou do anonimato e o motivo minha nova passagem por lá foi para entrar num novo ritmo...

Estratégia de marketing ou não, este ano o turismo de Liverpool é plural. Exposições, festivais de teatro ao ar livre, celebrações a Shakespeare, mostras de arte, lambanas e até carnaval são eventos programados para esquentar a agenda do ano. O carnaval foi neste sábado, 2 de agosto e eu estive lá, de olho no maridão, para conferir o samba na terra do rock, o cocar de penas no berço do corte tigela, o Brasil na terra da Rainha!

Para quem esperava sentir vibrar no peito a batida do tambor da Mangueira, o carnaval deixou a desejar; e os que esperavam ver mulatas de Sargentelli devem ter ficado decepcionados... Entre corpos brancos sobre saltos-agulha e o desfalcado batuque verde e rosa da Mangueira (que estava mais para "Esguicho", devido aos poucos integrantes), o show maior foi o calor que emanou da arquibancada! Dispersa sobre as ruinhas frias de Liverpool, a multidão globalizada acompanhou 2 horas de desfile na maior empolgação! E essa animação foi contagiante... A inglesas fantasiadas saltavam descordenadas tentando sambar; homens hipnotizados invadiam a “passarela” para tirar casquinha das passistas; as crianças vibravam, os flashes cegavam... E nós dando risadas de um carnaval café-com-leite que saciou desejos e fetiches dos ingleses.

No fim das contas, metonímia: apesar de menor e em terra estrangeira,a Mangueira revelou a sua grandeza; despertou o Carnaval latente que Liverpool mantinha adormecido e por alguns quarteirões confeiteou e serpenteou, tornando brasileiro o coração e os pés inquietos de todos presentes!

"A MANGUEIRA REDESCOBRE A ESTRADA REAL... E DESTE ELDORADO FAZ SEU CARNAVAL"

Mesmo com um Carnaval sem mulatas de Sargentelli, sem celebridades, sem a potência da bateria, sem mestre-sala e porta-bandeiras, mesmo assim, o Carnaval Latino de Liverpool foi a Sensação! Por algumas horinhas pelo menos, o samba abafou os ecos da história da bateria dos Beatles e sobrepôs os gritos adolescentes de suas fãs por gritos de desejo de homens maduros. E só por isso já valeu a visita do samba na terra fria do rock! Que essa visita a Liverpool nos deixe de herança um carnaval mais nobre e torne o solo real do rock mais quente de se pisar!